sábado, 28 de fevereiro de 2009

VIDA DE CÃO


Ainda me lembro de passearmos juntos no jardim,
Das noites que passávamos junto da lareira,
Quando comíamos todos juntos.
Nessa época éramos tão felizes,
Tu e eu.
Brincávamos junto das flores
E corríamos atrás um do outro nas montanhas
Molhávamos toda a gente na praia,
E era tão lindo o nosso amor,
Mesmo sabendo que eras mais velha que eu
Nós éramos tão cúmplices e unidos
e tínhamos os mesmos gostos
os mesmos defeitos.
Ate que um dia desapareceste
Sumiste da minha vida, minha querida
Nunca soube porquê
O que eu teria feito de mal?
Perguntei-me durante anos e anos
E o que me fez abrandar esta dor,
Esta tristeza,
Foi a minha família, aqueles que me acolheram
Que me deram sempre muito amor
Muito carinho e brincadeiras,
Eu daria a minha vida por eles,
Por cada um deles.
Mas depois quando envelheci
Era como um intruso,
Como uma folha seca de Outono,
Ainda me dói o coração fraco e triste
E quando me lembro daquele dia
Que me levaram a passear
À tanto tempo que não brincávamos
E sentia-me tão feliz
Por isso Julguei ser uma partida quando me deixaram na estrada
Nunca imaginei que me abandonassem
Mas abandonaram…
As minhas lágrimas cegaram os meus olhos,
Aí compreendi como perdi a minha querida.
Hoje sou velhinho, faminto e infeliz,
Tenho uma pata partida e sou cego,
Mas tenho ainda a minha dor
E dói muito cá dentro.
Porquê?
Porque nos abandonaram?
Eu gostava tanto deles.
Sinto-me só e triste desta vida injusta
Desta vida de cão...


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

IMPULSO


Gravo estas palavras aqui
Com caneta, alma e tudo que senti
Não encontro poema que assente na tua tez
E em tudo o que tu és.
Tentei viajar noutro mundo
A procura de um escrito
A procura de nem sei o quê,
Tento encontrar uma rima
Mas em vão, não sei porquê,
Procuro-te nesta obra-prima
Mas o que eu queria era ver-te,
E ao olhar a tua imagem
Desejava ter-te.
Procuro-te na minha cama
Nem o teu cheiro respiro,
Imagino-te perto de mim
Mas encontro-me num abismo.
O tempo estagnou,
A chuva parou
Nos teus e nos meus sonhos.
Os nossos poemas fundem-se
Nos mais lindos dizeres,
Mesmo sem rimar
Fazendo as palavras se encontrar
E lá no meio do silencio, a tua voz...
Faz-me saltar num impulso
No acordar de um sonho tão medonho,
E transforma num relâmpago
Todo o amor que há em mim,
E faz-me correr vales e montes
Procurar-te cegamente
Em cada raio de sol,
Vasculhar o fundo dos oceanos,
Enfrentar todos os medos e enganos
Penetrar nos teus segredos,
Encontrar rimas nos meus enredos
Odiar quem tu amas
Invejar quem te tem
Odiar a mim mesmo
Por não controlar os meus impulsos,
Pois quero-te ver morrer...
Morrer no meu peito
Matar-te no meu leito,
Por amar-te deste jeito,
E matar-me para morrer contigo...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

MILÉSIMO DE MIM


És pedaço do meu ser,
És a minha vontade de viver,
E deste-me a conhecer o amor
Como nunca o tinha sentido,
Um amor sincero e seguro
Sentimento tão paterno e puro,
Sem ciúme, sem falsidade,
Desconhecido na minha idade.
Nesta manha tão linda
Notícia bem-vinda
Por ti, felicidade sem fim
Milésimo de mim,
Meu ser tão pequeno
No meu colo sereno
A espera de um carinho
De uma ternura ou beijinho
E o narizinho que fofura
Tua mãozinha uma doçura,
Que abraça o meu dedo
Sem qualquer medo.
Parte o meu coração outrora rochedo.
Disfarcei-me de artista
Por tão bela obra concebida
Acabada de nascer, ali despida
Tão frágil e inocente,
Para ti prometi
Assim que te vi
Ser pai presente
E amar-te para sempre